Que constrangedor ler uma matéria dessas… Mas é importante para entendermos a visão de pessoas que pararam nos anos 50 e continuam liderando as criações de marcas globais. Nesta matéria, este sujeito ~ um dos deuses da publicidade brasileira ~ diz que empoderamento feminino e diversidade na propaganda é coisa de gente de baixo intelecto e que a obrigação do consumidor é consumir e não se meter na licença poética da publicidade com ideias estapafúrdias. (HEIN????)

Além disso, defende uma ideia criativa onde sugere que um Porsche é melhor que uma mulher! NÃO, MEU SENHOR.

NÃO EXISTE LICENÇA POÉTICA PARA O MACHISMO.

E nada que denigra pessoas que você chama de minoria, mas que são as que consomem os produtos das marcas que você atende. Que vergonha e retrocesso para os clientes da WMcCann, especialmente os que estudam se tornar signatários da ONU e repensar propósito e missão de marca – de dentro pra fora da companhia (movimento de muitas globais para equidade de gênero e raça, que ao contrário da postura deste indivíduo, estão atentas às mudanças sociais que impactam diretamente no valor da empresa e nos negócios).

É hora de repensar e buscar fornecedores com os mesmos valores e propósito, mores.

Até porque se a demanda do mundo é rever conceitos e ressignificar mensagens na publicidade, por ali as coisas continuarão perpetuando a fala deste indivíduo. E uma coisa é certa: NÃO PASSARÃO! Preparem-se para tirar campanhas milionárias do ar e colocar suas agências de PR para gerir crise ao invés de conquistar reputação para suas marcas.

No trecho abaixo da entrevista com Olivetto para a BBC ( a íntegra da entrevista dada à BBC no dia 24 de julho, você pode ver aqui) ele defende uma “BIG IDEA” na qual diz comprovar que um Porsche é melhor que uma mulher e sugere que os incomodados com sua criatividade cancelem a vida:

Olivetto: … É uma história aparentemente machista e que, no entanto, poderia ser feita, seria eficiente, encantaria os homens, que seria o público, e não desagradaria as mulheres. É a ideia de um monólogo do ‘Por que Porsche é melhor do que mulher que, diga-se de passagem, é excelente’.

O target do Porsche é 100% dos homens. Mas por que Porsche ‘é melhor do que mulher que, diga-se de passagem, é excelente’? É como um teorema, há uma comprovação.

A primeira prova é que, se você tem um Porsche, que é muito bom, e você tem dinheiro para comprar mais um, você compra, e o Porsche que você já tem não fica aborrecido. Já (se) você tem uma mulher que, diga-se de passagem é excelente, e fica com vontade de ter mais uma mulher, você vai ter um problema. É a primeira prova da superioridade do Porsche.

A segunda prova é mais dramática. O sujeito tem um Porsche e resolve que não quer mais ter aquele Porsche. Ele vende o Porsche e ganha o dinheiro. Já (se) ele tem uma mulher que, diga-se de passagem é excelente, e resolve que não quer mais ter mais aquela mulher, ele perde o dinheiro.

Quantos homens você conhece que têm um Porsche? Pouquíssimos. Quantos você conhece que têm mulher? Um monte. No entanto, todos os que têm Porsche têm mulher e nem todos os que têm mulher têm Porsche.

BBC Brasil – Pensando no que as mulheres querem hoje, e falando também como mulher, essa ideia não pode ser vista como ultrapassada?

Olivetto – Isso está calcado num target muito fechado. Você controla isso com a mídia onde você veicula. Porque o Porsche é um produto totalmente segmentado. Você não põe o Porsche na novela das oito. Os consumidores de Porsche você sabe exatamente onde estão.

BBC Brasil – Mas para uma parte das mulheres esse tipo de propaganda seria inaceitável em qualquer meio, porque você está comparando uma mulher a um Porsche.

Olivetto – Mas aí você tem que cancelar a vida. Se partir desses princípios, você cria um mundo totalmente antisséptico. Vai chegar à conclusão dos caras do Fahrenheit 451(romance de Ray Bradbury), que vale a pena queimar os livros.

E a gente segue daqui acreditando na transformação e que sim, marcas podem ser agentes de transformação e a publicidade pode ser melhor e ao invés de perpetuar a objetificação da mulher e invisibilizar as pessoas, deem voz e vez à elas, afinal o mundo muda e a comunicação precisa evoluir junto.

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