Nina Silva é uma mulher negra, de 36 anos, nascida no Jardim Catarina, que era na época  a maior favela plana da América Latina, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio.

Ela quer mudar a realidade das pessoas negras, mostrando que tem direito de ocupar os espaços que quiserem. Não é à toa que ela foi nomeada uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo. <3

Filha de Antonio Carlos e da Dona Marise, tem uma irmã, a Carla Veronica, Nina diz que sua família é grande com muitos tios e primos que favoreceram sua identidade como pessoa negra.

“Passei por situações dentro da família, durante a vida escolar e profissional, que me fizeram entender os desafios que teria na vida adulta como uma pessoa negra. Especialmente se eu quisesse ter, como a gente diz, um lugar ao sol.”

Nina foi criada até os 13 no Jardim Catarina, depois se mudaram de lá porque o pai teve a possibilidade de conquistar cargos públicos. Ele terminou o 2º grau por supletivo, a mãe nem chegou a completar o segundo grau, e a sua irmã mais velha foi a primeira a ter graduação.

Pra Nina, sua irmã sempre foi uma grande referência: “pra mim, ela era uma mulher desbravando espaços em meio às oportunidades que os nossos pais estavam gerando pra gente e isso sempre me inspirou”.

Aos 17 anos, já na faculdade, sentiu que precisava trabalhar pra mudar sua realidade o mais rápido possível. Naquela época, a condição da família já tinham até melhorado. Eles já tinham oportunidade de ter coisas além do que imaginavam que poderiam, mas Nina queria perseguir um lugar de maiores possibilidades econômicas e sociais. Estudou Administração e fazia estágio durante o dia.

Foi nesse curso, que Nina conheceu a área de logística, da qual gostou. Depois de fazer um trainee aos 20 anos, recebeu um convite pra ingressar em um projeto de implementação de um sistema importante para o mercado até hoje, o SAP, mas naquela época Nina não conhecia nada de tecnologia e nem sabia se queria isso pra sua vida.

Depois de 1 ano no projeto, estudou de forma autodidata, foi reconhecida como Consultora Júnior e foi contratada. Foi aí que sua vida na tecnologia começou. 

Quando começou em TI, saiu da casa dos pais, alugou um apartamento e conquistou mais independência. Buscou certificações dentro da área, mesmo sem saber se conseguiria se dar bem nas provas. E deu certo, conquistou a certificação internacional de que precisava. A partir de então começou a marcar presença em consultorias maiores e surgiram convites para atuar em projetos internacionais.

Em 2007 já era consultoria líder técnica funcional na Cap Gemini, e em 2008, foi promovida a gerente de projetos, que era a área que tinha mais a ver com seu perfil, onde podia trabalhar com tecnologia e ao mesmo tempo com gestão de pessoas.

“Eu queria atuar de forma influente com as empresas até os steak holders no cliente. Poder lidar com a jornada de cada profissional do seu time. Entender escopo, trabalhar em cima de prazos e tarefas, coisas que sempre me saltaram aos olhos dentro da parte de gestão empresarial.”

Sua carreira decolou. Chegou a ter 40 pessoas sob sua gestão. Já foi gerente de sistemas, gerente de programas, de portfólio. Mas ao longo dos últimos 10 anos, se deparou com a crueldade do mercado de trabalho.

 

“Quando se disputa posições de privilégios, de poder, de influência, é quando o racismo mostra ainda mais sua cara e seu punho forte. É quando o sexismo age de maneira mais cruel. Fui subjugada, mesmo performando melhor que a maioria de outros gestores.

 

Recebia salários menores que homens brancos e mulheres brancas. Tive poucos pares de pessoas negras ao meu lado, homens ou mulheres. A presença de mulheres brancas sempre foi bem maior do que homens negros. Isso não é divulgado, mas acontece mais do que as pessoas imaginam.”

 

 

 

Em 2013, Nina passou por um momento muito difícil. Ela teve a síndrome de Burnout, que é um acúmulo muito grande de estresse, que pode fazer a pessoa entrar em uma profunda depressão. “Eu não levantava da cama, não comia, não tomava banho. Aí vi que a tecnologia não servia mais pra mim, que não deveria estar mais presente na minha vida, porque estava me fazendo mal.”

Nina então decidiu sair da empresa e passar uma temporada nos Estados Unidos e aproveitou para fazer alguns cursos. Nessa época ela nem pensava em voltar pro mercado de tecnologia.

Depois de um tempo, com o dinheiro já acabando e ela sem expectativa de permanecer muito tempo apenas como estudante ela decidiu que era hora de voltar. “Fui convidada para fazer doutorado lá, mas não me via em posição de estudante durante 4, 5 anos. Tinha a sensação de que perderia mais tempo do que já estava perdendo.”

Entre 2005 e 2012, Nina tinha uma ONG que trabalhava com a valorização da cultura afro-brasileira e fomentação e promoção de eventos culturais para a população negra. Com a sobrecarga de trabalho em TI, acabou se afastando, porque não conseguia dar mais a atenção necessária.

 

“Quando voltei pra tecnologia percebi que precisava voltar com os meus propósitos. Não foi à toa que 2013 foi o ano do Bornout. Eu tinha a ONG até 2012. Percebi que eu sentia falta de ter propósitos maiores, além do meu trabalho.”

 

Tentou sair da área de tecnologia e montou um salão de beleza, mas não deu certo. Em seis meses estava de volta ao mercado de trabalho na área de sistemas, ainda em SAP. 

Depois disso, Nina decidiu fazer um coaching de carreira pra entender onde poderia atuar como profissional, já que era 2014 e estávamos em um momento de crise. Descobriu seus  pontos fortes e fracos. Logo depois foi convidada a ir pra Honda e então passou a morar em Campinas.

“O grande problema é que essa cidade, junto com Ubatuba, foi uma das últimas a abolir a escravidão. As pessoas ainda têm um olhar e comportamento muito escravocrata, provinciano, colonial.”

Durante o período em que estava trabalhando na Honda, Nina voltou a dar mentoria pra jovens empreendedores e começou a ser chamada pra palestras. “Nessa época eu batia cartão, então eu não podia simplesmente sair mais cedo. As pessoas lá não gostavam da mistura da minha imagem pública com a profissional.

Comecei a ver que aquilo estava me fazendo mal, que eu tinha que negar convites.Não achava justo também eu ter que trabalhar até mais tarde sem receber por isso algumas vezes. Eu levava muito trabalho pra casa. Sentia que estava voltando a 2013, porque eu trabalhava muito e não via resultado e me dei conta de que poderia cair na mesma situação de Bournout e não queria mais isso.

Resolvi buscar outras alternativas, foi quando conheci o meu sócio hoje na Black Money e a gente se alinhou em relação a projetos pra emancipação financeira e social, política da população negra inicialmente no Brasil.

Foi um momento de voltar a estar próxima de um propósito. Voltar a ver que minhas iniciativas poderiam estar vinculadas a isso e que não necessariamente eu teria que parar uma coisa pra tocar outra.”

Foi assim que surgiu o movimento Black Money. Nina pediu demissão e começou a participar de processos seletivos focados em empresas que estivessem alinhadas ao seu propósito de vida.

“Percebi que esse era o ponto que me motivava e que me fazia estar satisfeita ou não. Tem outros pontos como reconhecimento a partir de benefícios, salários, um ambiente que seja sadio, mas eu vi que o que faltava na minha jornada era estar em ambientes onde a justiça, a diversidade, o desenvolvimento das pessoas de forma mais igualitária fosse pilar, e não apenas algo trabalhado no grupinho de afinidade.”

A ideia do Black Money surgiu por conta da inquietação de nos espaços, especialmente corporativos, não ver a presença de pessoas negras. Então, esse movimento vem pra unir os agentes do ecossistema, principalmente no B2B e B2C.

 

“A ideia é gerar uma cadeia de suprimentos entre empreendedores negros e fomentar o afro consumo para que os empreendedores negros não precisem ficar a mercê de investimentos de terceiros e investidores, por conta da falsa ideia de que a gente não deveria receber crédito.”

 

Hoje, no Brasil o empreendedor negro tem o crédito 3x mais negado do que o empreendedor branco e isso faz com que ele não consiga aplicar a tecnologia no seu negócio, que ele não consiga escalar seus produtos e chegar no consumidor. A ideia do movimento é fazer essa ponte e unir outras instituições que já estejam trabalhando em prol desse fomento.

O Plano da Nina é fazer com que cada vez mais os negros ocupem espaços e tenham oportunidades iguais aos brancos. Ela luta em busca da igualdade.

“O Black Money quer trazer a emancipação real para a população negra, tendo em vista que não apenas a inclusão, diversidade, mas sim ter as nossas escolas, nossas próprias faculdades, nossas empresas, corporações, onde a gente não precise de percentual, onde a instituição já nasça com líderes negros e que a gente consiga ter um nível de concorrência em relação a empreendedores e empresários não negros de igual pra igual.”

É inspirador ver projetos como os de Nina, que buscam dar visibilidade às pessoas que merecem ocupar espaços. Mesmo sendo a maioria da população brasileira, os negros ainda sofrem com o preconceito e falta de oportunidades.

Que, em breve, possamos ver cada um ocupando os espaços que são seus por direito, sem que haja distinção de cor, sexo, credo ou o que quer que seja!

É uma mulher inspiradora ou conhece uma que seja? Manda pra gente a história dela no elatemumplano@planofeminino.com.br, que vamos contar sempre histórias incríveis por aqui!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *