Cristina Naumovs é uma mulher de peso quando falamos de representatividade feminina no jornalismo. Seu último trabalho com o reposicionamento da Cosmopolitan na Editora Abril, foi incrível e, além dela, Cristina tem passagens por outras grandes marcas como Serafina, Folha, Vogue, Editora Globo, entre outras, onde teve a oportunidade de mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser. 

Cris contou um pouco mais sobre o início da sua carreira e diz que, quando adolescente, não sabia que faculdade gostaria de fazer. Pensou em Jornalismo, mas foi fazer História na Faculdade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, mas isso não durou muito tempo.

Procurando se encontrar, Cris ainda passou pelos cursos de Ciências Sociais, Biblioteconomia e o Jornalismo, apesar de mexer com ela, foi ficando de lado. Quando voltou pra São Paulo, a internet estava começando a crescer no Brasil e ela foi trabalhar  na Uol e gostou desse ambiente de tecnologia, da revolução que internet estava começando a fazer na vida das pessoas.

Quando falamos de Cris Naumovs, falamos de uma pessoa plural, cheia de vontade de fazer acontecer. Depois da Uol, ela passou por um estágio na Mix Brasil e se matriculou na Escola Panamericana pra Design e trabalhou com Web Design na Som Livre. Mesmo gostando do que fazia, ainda não via esse espaço como sendo o lugar que queria ocupar.

“Nessa época, em 2002, uma amiga que trabalhava na TRIP me mandou uma mensagem dizendo que estava à procura de um editor de arte e eu me ofereci para a vaga, mesmo sem experiência. A pessoa que me entrevistou viu algo em mim que nem eu mesma sabia que existia e eu consegui a vaga, mesmo sem saber usar computador direito. Eu passava horas na frente do computador procurando informações, estudando. Este período que fiquei lá foi um intensivão de direção de arte pra mim, foi aí que eu descobri que era isso que eu queria.

Em 2012 ela foi para a Abril. “Eu fui bem na cara de pau oferecer meu trabalho. O diretor conversou comigo sobre a vaga, que era de Direção de Arte da VIP, uma revista masculina e eu fui! Essa foi uma experiência incrível, fiquei por lá um pouco mais de 2 anos, quando surgiu uma oportunidade para eu ser a Diretora de Arte da Revista Nova, o nome da Cosmopolitan na época e eu fui para mais um desafio.

Foi com essa experiência que eu entendi o que é olhar pro mundo, entender o que as pessoas querem ver. A mulher que lia a Nova, na época via o feminismo como um palavrão e nós usamos a revista para explicar toda essa nova realidade para a nossa leitora, mostrar que o feminismo era necessário para que ela não tivesse medo.

 

 

Quando a Diretora de Redação saiu da Nova, Cris decidiu que queria ocupar aquela vaga, queria ter essa nova experiência. “Foi demais, porque consegui fazer essa transição da Nova para a Cosmopilitan, participei dessa nova linguagem, falamos de coisas básicas e também de assuntos importantes como a violência contra a mulher.

Pudemos explicar pra essa mulher que ambição não era um problema. A gente tem que ir lá e mostrar que é uma pessoa incrível, que a pessoa merece olhar para o seu trabalho, porque não somos criadas para se adjetivar. Foi com esse olhar que trabalhamos com a revista, olhando pra essa mulher dizendo que ela pode ser aquilo que quiser.

Falamos um pouco com a Cris sobre a crise na Editora Abril, que recentemente demitiu 800 funcionários e fechou 11 títulos, além de pedir recuperação judicial, deixando todas essas pessoas sem receber seus direitos trabalhistas. Para ela, o mercado tem passado por uma mudança profunda ao mesmo tempo que nunca precisou tanto do jornalismo.

Não existe conteúdo de graça, há um custo para fazer essa roda girar. Os gigantes têm uma dificuldade grande de movimentação. Na Abril vemos um problema estrutural pois, quem herdou a Abril, não tem como objetivo serem milionários, apenas. Não há preocupação com o conteúdo.

Tem muita gente querendo fazer um trabalho relevante, mas que precisa que entender que não é mais com aquele tamanho todo, não tem como sustentar essa estrutura e percebo que a Abril demorou muito pra fazer a transição do impresso para o digital.

Eu acredito que é um problema de gestão, pessoas que não olham pro negócio com carinho e aí culmina com a demissão em massa. Eu acabei saindo porque não pude suportar ter que mandar tanta gente embora, pra mim não fazia mais sentido ficar lá. O pior de tudo é que eles deixaram mais de 800 famílias sem receber nada. Muitas pessoas que dependiam do salário que ganhavam.

Falando sobre as revistas encerradas, dos 11 títulos que terminaram, 8 eram marcas femininas. Pra mim, o sinal que eles passam é que não interessa fazer conteúdo para a mulherA VIP é uma das revistas que foram fechadas e foi incorporada à Revista Exame, pra mim isso tá claro que o recado para o mercado é atender um público masculino. A principal revista de economia do país não é pra mim, é para os homens.

A maneira como o público consome conteúdo nos últimos anos mudou bastante, o digital veio para disputar com o impresso e as marcas precisam se adaptar a este novo momento. Para a Cris, o jornalismo deve acompanhar esse movimento criando uma relevância cada vez maior para o seu conteúdo e deu alguns exemplos de como isso funciona na prática: 

“A Vogue, hoje é o titulo que mais fatura. Eles criaram um desejo de marca, as pessoas querem estar perto dela. Criaram eventos e outros jeitos de levar conteúdo pro mundo, de uma forma que  marca está presente em diversos lugares não só por meio da revista, que é apenas um pedaço da receita. Vários títulos vão sobreviver porque investem no jornalismo. Grande parte do faturamento do New York Times vem de assinaturas digitais. A mesma revista que você compra, pode ser acessada pelo celular ou computador.

O Movimento Me Too, por exemplo, veio de uma reportagem do New York Times, porque reportagem custa, conteúdo custa, o compromisso com a verdade custa, o jornalismo custa. Por que pagamos Netflix, Spotify e não queremos pagar por um conteúdo de qualidade? É possível fazer um conteúdo interessante e gerar renda com isso.

 

 

Sobre o mercado, a Cristina vê que as mulheres têm realizado uma transformação muito grande, uma mudança que não pode mais ser parada.

 

“Não consigo ver um espaço que não tenha mulheres. O mercado olha pra gente como agente de mudança, estamos em um momento de transformação. Daqui alguns anos vamos olhar pro mundo e lembrar de quando lutamos para ter 50% de mulheres no mercado de trabalho. 

 

Isso não significa que vai ser fácil, como não está sendo. Ninguém vai nos deixar passar, temos que mostrar e forçar a nossa presença. Se tem um evento com 80% de homens brancos, temos que nos movimentar e dizer não e brigar pela igualdadePrecisamos criar uma geração sabendo o valor que tem. Temos mais de 50% de mulheres na população e isso deve ser valorizado.” 

Quando entramos na questão de preconceito, a Cris diz que está em um processo de desconstrução porque sempre procurou se preservar para não passar por esse tipo de situação. “Passei a vida dizendo pra todas as mulheres com quem me relacionei que não sou carinhosa em público. Aos 37 anos comecei a namorar a Patricia, com quem estou até hoje, e um dia fomos numa loja, ela me cumprimentou com um beijo na boca e eu simplesmente travei.

Fui olhar pra mim mesma e percebi que tinha me moldado de uma maneira que era basicamente não incomodar pra não ser incomodada, pra evitar que o mundo me atacasse. Estou em um processo de desconstruir isso em mim, de não me preocupar com o que as pessoas vão pensar ou falar de mim.”

Nesse papo, descobrimos que o que não falta para essa mulher cheia de atitude e simpatia são planos para tirar do papel. “Estou preparando um filme sobre maternidade e aprendendo a olhar para as mulheres do meu entorno e fazer planos em conjunto. O meu Plano é espalhar afeto com conteúdo afetuoso por aí.

Quero ter cada vez mais gente comigo, quero fazer uma roda com mais gente, nunca rodar sozinha aproveitando o lugar de privilégio branco em que eu vivo. Quero abrir espaços pra mais mulheres, seja com roda de conversa, com filme, com criação de conteúdo, não importa.

 

Acho, de verdade, que ninguém pode nos parar. Começamos uma mudança que não tem como parar. Vamos caminhar cada vez mais juntas para um mundo mais igualitário.”

 

Para quem está buscando seu espaço no mundo, querendo se encontrar profissionalmente, a Cris diz algo que é muito importante todas as mulheres terem em mente: ambição não é defeito. “Buscar o que é seu não é defeito, você precisa se colocar no mundo, entender que nenhum lugar é fixo, as coisas mudam e estar aberto às mudanças é uma qualidade gigantesca, maior do que qualquer outro conhecimento que você poderia ter.

Saiba lidar com gente, trabalhar em grupo, têm pessoas com qualidade e habilidades que você talvez não tenha, mas que podem te ajudar, isso é importante. Não somos competidoras umas com as outras, isso é uma falácia que colocaram na nossa cabeça. Estamos juntas. Olhe para outras mulheres, fortaleça cada uma delas, busque mulheres em quem se inspirar e vamos juntas, porque não vamos parar.

Está aí uma grande inspiração para que as mulheres saibam que quem tem um plano, pode ir cada vez mais longe e realizar coisas audaciosas. Como mulheres, devemos nos fortalecer para cada vez mais ocuparmos os espaços que são nossos por direito.

Conhece uma mulher poderosa e quer fortalecer sua história? Conta pra gente no elatemumplano@planofeminino.com.br. Vamos formar uma rede de mulheres que vão dominar o mundo mostrando que podem fazer tudo o que quiserem.

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