Luiza Yara Lopes Silva, mais conhecida como Yzalú foi criada na periferia de São Bernardo do Campo, no grande ABC Paulista. Sua paixão pela música começou ainda quando criança, ela adorava ouvir os discos de vinil da mãe e curtia Caetano Veloso, Djavan e Gal Costa. Conheceu o violão aos 14 anos e a paixão só aumentou. Depois de passar um tempo em Salvador, morando com o pai, Yzalú voltou pra São Paulo e conheceu a Lia e a Regi, duas mulheres negras que faziam parte do grupo de rap Essência Black. Esta foi a primeira vez que ela teve contato com o rap comandado por mulheres e foi convidada pra fazer parte do grupo tocando violão.

Depois de sair do grupo pra tentar alçar voos maiores cantando sozinha, Yzalú foi incentivada pelo irmão a fazer vídeos no YouTube com releituras de músicas conhecidas do rap e rapidamente conseguiu visibilidade. Depois de se apresentar em um grande show interpretando a música Um bom lugar, do Sabotage, sua carreira decolou e em 2012 ela lançou Mulheres Negras, do rapper Eduardo Taddeo, uma das canções mais importantes desta década, que se tornou o símbolo do feminismo negro no Brasil, tornando tema de estudo nas escolas e universidades. Em 2016, Yzalú lançou seu primeiro álbum intitulado “Minha Bossa é Treta”. O álbum propõe discussões importantes em torno da mulher negra de periferia, com um olhar reflexivo, com muita qualidade sonora e artística.

O papo com a Yzalú foi inspirador e a gente aproveitou pra saber mais sobre ela, sobre o mercado e sobre seus Planos, que são muitos! Yzalú não para e tem muita coisa ainda pra realizar.

 

 

Plano Feminino: Yza, como você acha que as mulheres estão na área da música?

Yzalú: Olha, este é um mercado desafiador, principalmente para as mulheres. Sinto que ainda estamos construindo um mercado de possibilidades. É claro que hoje existe uma expansão nítida das mulheres dentro do rap e da música independente, inclusive quando ampliamos este olhar dentro da cultura hip hop é possível mais ainda perceber a sua atuação, seja como Dj, Graffiteira, B-Girl, ou até mesmo gerando conhecimento e injetando na cultura. Porém, ainda percebo uma postura arcaica enraizada em uma boa parte dos homens não somente em relação a mulher, um alter ego que alimenta uma ideia um tanto quanto monárquica deste mercado sabe. Coisas do tipo eu sou o rei da banca, você pode até ser bom, mas não pode ser melhor que eu, porque eu sou o rei.

Na minha visão, acredito que esta postura instaura um certo atraso no mercado fazendo com que grandes talentos continuem invisibilizados. Talvez esta seja uma estratégia de “reis” se manterem por mais tempo no mercado mas, ao mesmo tempo, penso que é preciso atualizar esta visão distorcida e construir novas possibilidades e formas de enxergar este mercado, fazendo um benchmark com mercados que deram certo. Penso que grandes líderes formam novos líderes e não o contrário, simplesmente por medo e ou insegurança. E quando faço esta reflexão, não tenho dúvidas de que as mulheres são as mais afetadas.

Você tem alguma dúvida de que se eu fosse um homem com o currículo que tenho, com a qualidade do álbum que lancei, estaria ainda inviabilizada pela grande mídia, pelos grandes prêmios, pelos grandes festivais? Eu te respondo, certamente não.

Plano: Por conta disso, em algum momento você já sofreu algum preconceito por ser mulher?

Yza: Sem dúvida. Apesar de hoje ter melhorado um pouco, ainda acontece. Já questionaram muito a minha capacidade, o meu talento, me subestimaram e me colocaram em dúvida. Inclusive, por várias vezes pensei em desistir! Enquanto eu pegava 3 ônibus para ir trabalhar, via vários caras pegando ônibus para ir para Galeria do Rock, comprar discos, dar um rolê, conversar com os parças sobre música, e eu não puder fazer isto, muitas minas não podem fazer isto, esta é a diferença. E é só um exemplo de várias outras realidades de mulheres que também atuam na música.

Porém, a reflexão que eu faço é: como já estar preparada para o mercado, sendo uma mulher à margem da sociedade em um espaço marcado pela falta de informação e pelo preconceito em um país tão atrasado como o nosso? É no mínimo exigir demais. Por este motivo, soube que para eu estar preparada para o mercado, não seria do dia para o outro, por isto, busquei me respeitar, entendendo minhas limitações, buscando a cada dia conhecer, me informar, estudar para evoluir e crescer como profissional e ser humano. E por isto percebo uma grande evolução na Yzalú de 2007 para hoje, ou seja:

 

Tudo é possível quando se tem determinação, paixão pelo que se faz e disciplina, não permito mais me contaminar por percepções e opiniões distorcidas sobre mim.

 

Plano: Agora, conta pra gente qual é o seu plano e dê uma dica pra mulherada ocupar seu espaço.

Yza: Meu plano é bem maior do que somente a música, quero poder transformar pessoas por meio da minha experiência de vida, construir talentos verdadeiros, conscientes, pé no chão, que estejam dispostos a aprender e evoluir, este é o meu verdadeiro sonho! A minha dica é: façam questão de ocupar os lugares, não se limitem e não se contaminem com o preconceito ou com a opinião negativa do outro, tenha certeza de que a sua força é uma ameaça e por isto somos tão temidas! Tenham sede por aprender, conhecer, sejam humildes, superem-se, surpreendam-se e acima de tudo, continuem!

 

Que história, né, mores? Yzalú é uma mulher forte, incrível que serve de inspiração pra muitas outras mulheres persistirem e seguirem seus planos, fazendo com que eles se tornem realidade. Toda semana continuaremos com histórias incríveis de mulheres que estão fazendo acontecer no mercado que atuam.

Conhece alguma mulher inspiradora com uma grande história pra contar? Manda pra gente no elatemumplano@planofeminino.com.br e quem sabe logo ela aparece por aqui!

 

 

 

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