Ontem, todo mundo acompanhou com muita dor o prédio do Museu Nacional do Rio de Janeiro ardendo em chamas. Um incêndio que destruiu séculos de história.

Mais de 20 milhões de itens estavam no Museu Nacional, uma construção com mais de 200 anos. O palácio serviu de residência à família real portuguesa de 1808 a 1821, abrigou a família imperial brasileira de 1822 a 1889 e sediou a primeira Assembléia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892.

Entre as perdas irreparáveis do Museu, está o fóssil de Luzia, crânio de 12 mil anos encontrado em 1975 em Lagoa Santa, MG, que, de acordo com estudos, mostrava ser de uma mulher com características físicas africanas.

Luzia era o fóssil mais antigo das Américas, a representação da primeira mulher brasileira, uma mulher que representava todas nós, que representava nossa história.

 

 

Uma perda irreparável que contava com acervos do mundo inteiro que englobava geologia, paleontologia, biologia, arqueologia, botânica. Além de ser uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras.

São séculos de história e de pesquisa que se perderam.

Era lá no Museu que aconteciam as aulas desse semestre com a professora Maria Elvira Díaz Benítez, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. O curso tem como espinha dorsal o pensamento racial… numa pegada de como, a partir de diferentes “ondas” o tema da raça foi tomado por pensadores e pensadoras negras. De Du Bois, passando por Garvey, pelo Pan -africanismo, pelos intelectuais negros e negras brasileiros, pelo feminismo negro, até chegarmos no que vem a ser o pensamento racial crítico e contemporâneo.

 

 

Hoje, com tristeza, vemos o quanto o descaso pode acabar com a nossa cultura. A notícia repercutiu internacionalmente, mostrando, mais uma vez, o quanto o Brasil é despreparado para lidar com situações de crise.

O quanto, infelizmente, nosso país pouco se preocupa com nossa cultura, enquanto milhões correm nas mãos de quem deveria cuidar de nós, do nosso país, do nosso acervo cultural, da nossa educação, do nosso investimento para a ciência, de nós, mulheres, da violência, dos negros.

A pergunta que fica é: a quem podemos recorrer?

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