Indaiá Militão é uma mulher poderosa, cheia de força. Tem 42 anos, é mãe do Artur, de 13 anos e designer há 20 anos com foco em mobilidade. Trabalha com design de carros, aviões e materiais, mais especificamente acabamentos, carpete e couro. Da família, é a filha mais nova, tem apenas mais uma irmã e se considera cidadã do mundo.

Começou a carreira na área de publicidade e atuou também com transcrição para uma empresa de pesquisa de mercado. Na FAAP, cursou desenho industrial e programação visual. “Era um curso bem masculino, com poucas mulheres. No designer gráfico havia mais mulheres do que em designer de produtos. Agora, quando falamos de pessoas negras, a coisa vemos que é ainda pior. No início do curso tinha apenas eu de mulher negra e mais 2 meninos negros, no final, sobrou apenas eu. Não me via representada na faculdade porque não tinha professores negros e via poucos alunos negros. Mas, apesar de tudo, consegui me encaixar porque gostava da faculdade, do curso e das pessoas.”

Indaiá já teve passagens por grandes empresas como a Post Net, que trouxe a internet para o Brasil, atuou em uma gigante automotiva como designer e, aos 21 anos foi morar na Áustria. Atuou na Embraer e um tempo depois trabalhou nos Estados Unidos, em Detroit. Há 4 anos retornou para o Brasil, abriu seu próprio escritório e hoje, é designer da Renault. 

Como trabalha na indústria automotiva, Indaiá diz que o mercado ainda é bastante masculina e machista, especialmente porque as pessoas acham que mulheres não entendem de carro. “Na área de design, as mulheres normalmente são inseridas na área de cores e materiais. Comecei nessa área, mas depois fui ampliando meu espaço para ser designer de shape, de formas, interiores, e depois passei a engenheira de qualidade em design. Eu abri meu leque de atuação pra sair do padrão onde as mulheres eram vistas nesses espaços”.

 

 

Com passagem por 18 países e 28 cidades ao redor do mundo, Indaiá disse que sentiu diferença no comportamento em relação às mulheres em diferentes países. “Nos países europeus, por mais que eles até tenham um pré-conceito, quando a gente fala de trabalho, eles entendem que a entrega é mais importante do que qualquer outra coisa, então não senti o preconceito tão forte. Mas, nos Estados Unidos a questão racial é extremamente importante, mais que a socioeconômica.

Já no Oriente Médio, a mulher realmente não tem espaço. Aqui no Brasil minha percepção é de que há preconceito contra a mulher, mas que é balizado em cima de questão socioeconômica. Se eu tiver grana, posso não ser bem aceita, mas não sou maltratada.” O preconceito racial ela já sentiu bastante também e Indaiá cita duas citações que marcaram bastante:

 

“Uma vez, no dia 13 de maio, que é o dia da abolição da escravatura, uma pessoa na empresa automotiva em que trabalhava veio me dar os parabéns. A companhia prontamente se manifestou contra esse tipo de preconceito, mas, infelizmente não foi pra frente. Morreu ali. Nos Estados Unidos, uma chefe sugeriu que eu usasse uma peruca lisa e não usar cores fortes nas roupas para poder passar despercebida, disse que eu precisava me adequar.

 

Meu pai me ensinou que há duas formas de reagir em situações de preconceito, de ignorância, porque preconceito é uma ignorância. Ele dizia o seguinte: ou você é um urso ou uma cobra. O urso dá o bote sem pensar em quais serão as consequências disso, já a cobra é aquela que acha o caminho pra poder dar o bote na hora certa. Eu, diariamente tento ser a cobra, mas pra isso tenho apoio de psicólogo, psiquiatra, faço vários cursos pra me centrar também como comunicação não violenta, assertiva, empática e gestão de conflitos.

Hoje, estou muito bem comigo mesma, faço meditação, e, com isso, a gente percebe que acaba se blindando pra não ser atingida nesse tipo de situação, porque você entende quem você é qual o seu lugar no mundo”.

Sobre seus planos, Indaiá diz que quer ter cada vez mais lugar de fala e que pra isso, investe em conhecimento. “A cultura, a educação, o conhecimento, são coisas que te empoderam, trazem respeito e as pessoas ao redor te respeitam ainda mais quando você conversa e tem poder de fala. Você tem lugar de fala quando tem conteúdo e mostra segurança. Gosto de me aprofundar nos assuntos e falar daquilo que realmente sei com clareza. Isso me empodera, me sinto ótima quando falo algo do qual tenho conhecimento e que poucas pessoas sabem”.

Para inspirar outras mulheres e mostrar que elas são capazes de realizar seus planos, a minha dica é saber quem você é, se fortalecer e ter felicidade, que vem mais de dentro do que de fora. É importante também se equilibrar na vida pessoal, profissional e espiritual. Tenha uma rede de apoio, seja com um psicólogo, ou com amigos, o mais importante é saber quem você é e seu lugar no mundo. Quando você tem esse poder de fala, você consegue usá-lo da melhor maneira possível”.

Uma mulher inspiradora, né? Conhece também uma mulher poderosa que tem uma história incrível pra contar? Manda pra gente no elatemumplano@planofeminino.com.br para que a gente possa compartilhar outras mulheres que estão fazendo acontecer por aí.

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