Geizi Santos é publicitária e acredita na comunicação como importante ferramenta de transformação social. Gosta de repensar padrões e novos caminhos. Pelo caminho, já encontrou muitas oportunidades e barreiras.

E assim, Geizi sentiu aumentar o desejo em usar a comunicação para gerar impactos positivos na sociedade. “Diante das respostas negativas, uma pergunta ecoava em minha mente: Por que não? Quando conseguia aplicar e desenvolver algo diferente do padrão, analisava os resultados positivos, e em minha mente ecoava: Sim, é possível!”

No início de 2016, a publicitária diz que sentiu que faltava algum propósito em sua vida. Faltava algo que a fizesse acreditar que poderia ser mais, fazer mais… e não por ela, mas pelos outros. Ela queria buscar algo em que realmente acreditasse, que era conexão e transformação.

Para recriar sua identidade pessoal e profissional saiu pelo mundo com uma rota traçada. Foi do Brasil para Irlanda, depois para Portugal, e então para São Tomé e Príncipe, no Continente Africano. Foi durante essa viagem que Geizi percebeu que precisava ressignificar seu espaço no mercado de trabalho.

Foi assim que nasceram dois projetos: Uma a Uma, que busca reduzir a Desigualdade de Gênero e a violação dos Direitos Humanos por meio do empreendedorismo feminino, que está sendo implementado em São Tomé e Príncipe, na África, e o Racha Cuca: um projeto online que busca o desenvolvimento e a implementação de projetos com corresponsabilidade social para empresas.

“Hoje meu trabalho é oferecer novos modelos de atuação para agências de comunicação e empresas, para assim atuarmos juntos na cocriação de uma nova realidade, que pode sim ser mais justa, mais acolhedora e, acima de tudo, mais humana.

De São Tomé e Príncipe irei para qualquer outro lugar do mundo em que eu possa atuar e vivenciar essa transformação que é necessária e urgente. Meu plano é seguir oferecendo diferentes formas de criar, conectar e transformar serviços em valores, conceitos em resultados e pessoas em agentes transformadores de alto impacto.

Este é meu caminho, mas eu não ando sozinha, muitos andam ao meu lado. Afinal a conexão é inevitável e há sempre uma ligação que gera um movimento impulsionando a transformação. E eu sigo em busca disto.”

No mercado de trabalho, atuando na área da comunicação, Geizi reforça a visão machista que já sabemos que existe ainda em larga escala nestes espaços e ainda é bem latente na nossa sociedade. “Há diferentes formas para reproduzir os mesmos preconceitos e na área de comunicação se você estiver atenta, perceberá diariamente o quanto o machismo é enraizado e naturalizado.”

A publicitária diz ainda que na faculdade os professores acabam de certa formando definindo as áreas que são mais femininas ou masculinas na comunicação.

 

“Lembro-me das aulas de fotografia em que um professor sugeriu que esta era uma área mais feminina, enquanto isso, nas aulas de direção de arte, os professores dedicavam a maior parte do tempo para dar ‘atenção’ aos homens da criação.”

 

Como sempre se identificou com a área de criação durante a faculdade, Geizi focou sua atuação nas áreas de redação, planejamento e eventos. Mesmo feliz com suas escolhas, ela diz que sente não ter sido estimulada para atuar em outras frentes também, porque talvez isso mudasse seus planos.

 

“O que identifico no mercado atual é a mesma coisa que aconteceu na faculdade: lugares pré-determinados e mulheres educadamente silenciadas. Quebrar a regra é difícil e quando nós, mulheres, finalmente quebramos, temos que lidar com tantas outras formas de limitações impostas diariamente. É exaustivo.”

 

O preconceito com mulheres no mercado publicitário é bastante comum e isso não é nenhuma novidade. Mas, é necessário falar cada vez mais sobre o assunto para tentarmos acabar com essa falta de equidade de gênero que ainda é enraizado no mercado. Geizi dividiu com a gente uma das várias situações de machismo que enfrentou durante a carreira.

“Lembro-me de uma vez que estávamos em uma reunião para criar uma peça que deveria ser veiculada no próximo dia. Era algo que precisava ser criado o mais rápido possível. Eu era o atendimento interno da conta, conhecia o cliente perfeitamente e, aos cinco minutos de reunião sugeri o conceito. Fui ignorada pelos quatro homens na sala.

Repeti novamente o conceito, defendi a ideia, expliquei o porquê considerava que aquele conceito se encaixava e fui ignorada todas as vezes que argumentei. Sutilmente minha ideia era descartada. Após 50 minutos de reunião, o diretor entra na sala questionando demora da reunião.

Imediatamente expliquei o assunto, e propus minha ideia/conceito. Ele olhou para todos na sala e disse: ‘Por que esta reunião não foi encerrada? A Geizi já disse tudo, o conceito dela é coerente e isto já deveria estar encerrado!’ Resultado: saímos da sala, após 50 minutos de reunião com um conceito que eu havia criado em 5 minutos.

Por que tanto tempo para ouvir ou aceitar um conceito proposto por uma profissional/mulher? Enfim, conceito aprovado, cliente feliz, mesmo após uma dose de machismo, não revelado.”

 

 

A desigualdade de salários também é algo muito presente e Geizi diz que viu diversas vezes, aumentos salariais para mulheres serem negados tendo a crise como justificativa, enquanto homens tinham todas as suas solicitações aceitas. Em cargos, capacitação e atividades iguais. 

Agora, tocando um projeto social na África, Geizi diz que está muito mais feliz, porque está tirando do papel planos pessoais e profissionais. “O Uma a Uma surgiu durante a realização de uma capacitação em Empreendedorismo Social, na qual realizei. O curso e o voluntariado são oferecidos e acompanhados através ONG WACT – em LISBOA.

Inicialmente é um projeto pequeno, mas com um potencial incrível. Neste momento atendemos 19 meninas, com idades entre 14 e 19 anos. O projeto é pautado dentro das necessidades do local e formas de promover a Igualdade de Gênero. Acredito que o importante é respeitar a cultura e o momento de cada mulher e sociedade.

Não dá para chegar aqui e querer discutir a igualdade salarial, quando na verdade muitas mulheres não possuem acesso à educação de qualidade ou sofrem abuso sexual e violência doméstica. Acredito que devemos dar um passo por vez e o momento aqui é para empoderar, oferecer conhecimento e apoio às mulheres.

Cada uma no seu tempo, cada uma a seu modo, e aos poucos a mudança vai acontecendo. Para isso, precisamos de mais uma, mais duas, mais três, mais quatro mulheres que acreditam que o empoderamento feminino deve acontecer aqui e agora.

Precisamos de mais um: mais dois, mais três, mais quatro homens que reconhecem que somos iguais e merecemos as mesmas oportunidades. Em qualquer lugar do mundo! O nome disso não é feminismo, o nome disto é: Igualdade. E nós precisamos lutar por ela, em qualquer lugar do mundo.”

 

Foto tirada por Geizi durante o projeto social Uma a Uma que está participando na África.

 

Os planos de Geizi são muitos. Como mulher, seu plano é ser livre. “Sinto que sou do mundo, quero estar em lugares diferentes em que eu possa transformar e ser transformada.. Liberdade para viver, pensar, sentir e realizar.”

Como profissional, a publicitária quer aliar este seu desejo por liberdade com a transformação social “O meu plano é me capacitar cada vez mais e vender o conceito Racha Cuca para o mundo. Para os próximos 3 meses ou para os próximos 30 anos, o Racha Cuca é meu plano: criar projetos que transformem pessoas.

Os projetos são abrangentes e o Uma a Uma é somente um exemplo daquilo que planejo para minha vida profissional. O plano é grande, mas o primeiro passo já foi dado.”

Para que as mulheres ocupem cada vez mais espaços, Geizi acredita que o segredo é que, como mulheres, estejamos cada vez mais unidas. “Chega de esperar que nos digam onde, como podemos ou devemos estar ou fazer! Quanto ao mercado de trabalho, há milhares de profissionais incríveis, devemos nos espelhar nelas.

Hoje, com a internet, podemos estar cada vez mais conectadas com as pessoas, abusem desta ferramenta. Dediquem-se, estudem e mais do que isso: busquem conhecimento emocional, pois é a autoestima e o controle emocional que irão nos fazer mais fortes para conseguirmos as mudanças que precisamos e queremos.

Se estivermos seguras com nossas emoções, nossos propósitos e valores, seremos imbatíveis. Sejamos nós a mudança no mercado de trabalho, estejam preparadas!”

Pra terminar, Geizi diz que sente orgulho do caminho que trilhou pra chegar onde está agora. Para ela, não foi fácil, como para a maioria das mulheres. Mas, no final, colher os frutos da sua trajetória é extremamente recompensador e o que faz tudo valer a pena.

Se você conhece mais mulheres inspiradoras como a Geizi, manda pra gente a história dela por e-mail no elatemumplano@planofeminino.com.br e vamos formar uma rede poderosa de mulheres incríveis que estão ocupando seus espaços por aí. Aproveita pra conferir mais histórias inspiradoras que já contamos no Ela tem um Plano.

 

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