Eliane Leite é uma mulher negra que nasceu em São Paulo, casada com Guilherme e mãe do Daniel. Filha de um militante do movimento negro, Antonio Leite, que sempre lutou no combate contra o racismo. Toda a sua infância e adolescência foi rodeada por essas questões.

Com três filhas, sua família sempre fez questão que elas estudassem e batalhassem pelos seus planos e diziam que o fato de serem mulheres não as impediria de chegar aonde quisessem.

Esse valor pela educação estava presente na vida de Eliane. Uma parte dos estudos foi em escola pública e assim que as condições da família melhoraram foi para uma escola particular, onde fez o ensino médio.

Ingressou na PUCSP para fazer matemática, e assim foi caminhando para a área da educação. Durante a faculdade começou a dar aulas, e no final do curso fez concurso público para ingressar como professora no estado.

“Entrar em contato com a escola me fez conhecer e vivenciar muitas coisas, que mudou ainda mais minha visão de mundo, dos adolescentes em situação de vulnerabilidade não só financeira, mas também afetiva, falta de estrutura nas escolas, falta de perspectivas dos jovens. E também me fez ter a certeza de que a educação pode colaborar com o processo de mudança desta realidade, que como professor podemos inspirar e afetar (no sentido de afeto) a vida desses jovens.”

Eliane construiu sua carreira na Etec Pirituba. Começou como auxiliar administrativo, foi professora, diretora acadêmica, coordenadora e, por fim, chegou ao cargo de diretora. “A decisão de querer ser diretora, foi no sentido de ter a certeza que eu poderia contribuir mais para a educação. Me preparei para poder assumir e fazer a diferença. Estudei muito, li muito, acompanhei diversos projetos de outras escolas, passei por diversas formações. Em 2014 fui convidada para assumir a ETEC Pirituba como diretora  pró-tempore e em 2015 me elegi para um mandato de 04 anos, que encerra agora em 2019.”

Eliane iniciou na direção da ETEC quando a escola tinha apenas três anos, mas percebeu que havia muito potencial para ser trabalhado ali. Na época, os cursos que estavam disponíveis eram considerados mais masculino e o corpo docente também composto por maioria homens.

“Os professores eram na sua maioria da região e era uma estranha no ninho. Mulher, negra, feminista e ativista com uma história de vida e carreira diferente, com certeza tinha muitos desafios pela frente. Queria fazer com que todos trabalhassem em torno de propósitos e resultados. Precisávamos manter os resultados que a escola já tinha e ampliar mais ainda esses resultados. Para mim era claro que a ETEC Pirituba, que foi construída a pedido da comunidade, deveria se tornar referência pela sua qualidade e projetos na região e no estado.”

Eliane diz que para melhorar o processo de educação é preciso pensar fora da caixa. Ela diz ainda que há um universo enorme para ser explorado pelos jovens, só precisa que isso seja apresentado a eles. “A escola é um espaço seguro para discussões políticas, sociais, culturais, pois podemos sair do discurso raso e aprofundar essas questões, utilizando para isso a literatura, a arte, a ciência e tecnologia.

 

Os jovens têm um papel fundamental para construção de um mundo ético e cidadão, igualitário e com equidade social. Podem transformar o lugar que moram, o bairro, a cidade, o país e o mundo, é necessário mostrar que nossa existência só será importante se tiver propósito. Não dá para ser feliz sozinho, é importante pensar o coletivo.”

 

 

Eliane com os alunos da ETEC Pirituba na competição internacional Yo amo la Ciência, em Bogotá, Colômbia. A turma ganhou o 1º Lugar.

 

Para a educadora, as ações realizadas na escola têm influenciado positivamente a vida dos alunos, fazendo com que eles percebam o seu papel na sociedade e como suas decisões e atitudes podem mudar o entorno. Hoje, muitos deles inspiram outros jovens pela sua atuação acadêmica, pelo seu envolvimento em projetos voluntários, pela sua relação com a escola e pela importância que dão à educação.

Eliane ainda completa dizendo que as escolas podem incorporar ações e discussões com os adolescentes para que percebam o papel da escola, que vai além dos vestibulares e ENEM. “Essas ações contribuem na melhoria do rendimento escolar e fazem com que os alunos se sintam parte da escola, além disso, eles se sentem responsáveis por aquele espaço e passam a colaborar de forma mais efetiva com os professores, colegas e gestores.”

Dentro da realidade escolar, Eliane também percebe o movimento feminino para ocupar espaços e apoia todas as ações para que as mulheres sejam valorizadas com equidade. “A luta das mulheres para ocuparem cargos de liderança, igualdade de salários, maternidade sadia sem o medo de perderem emprego, tem reduzido a desigualdade. Mas ainda há muito a ser feito.

 

Precisamos dentro das empresas falar sobre igualdade de gênero, igualdade racial, assédio e violência. Afinal, somos a maioria da população, e já está provado que as empresas mais diversas têm maior lucro.

 

Mesmo na área educacional, onde é alto o número de mulheres, Eliane diz que já sofreu preconceito. “Apesar do número de mulheres na educação ser bem maior que os homens, nossos secretários e ministro de educação são homens. Faço parte de um conselho de diretores, onde o número de homens é maior.

 

Turma da ETEC Pirituba em uma ação de coleta de TV analógica, para conversão em TV Digital.

 

Lidar com o preconceito por ser mulher e ser negra, é uma constante, as pessoas ainda se espantam, quando visitam a escola e me apresento como diretora. Mas precisamos ocupar os espaços. Precisamos ser exemplo de resistência para outras mulheres e principalmente para as meninas negras. Uma mulher puxa outra.

 

Uma mulher que tem a educação como foco tem muitos planos. “Meu plano é ocupar outros espaços, chegar a outras posições dentro das instituições escolares, seja pública ou privada.”

Como mulher que procura seu lugar no mundo e busca ocupar seus espaços ela diz que o primeiro passo pra realizar planos é não ter medo. “Não podemos ter medo, tenham propósito, tenham planos e persistam. Respeitem outras mulheres, tenham empatia.  Inspirem outras mulheres e meninas, não importa qual seu cargo. Plano sem propósito é vazio.”

A Eliane tem realizado um trabalho incrível na ETEC Pirituba, transformando, diariamente a vida dos jovens que passam pela escola. Ela, foi a primeira escola parceira do Plano de Menina e abriu espaços para que juntas, possamos mostrar que todas as mulheres, todos os jovens, podem ocupar os espaços que quiserem.

Eliane é uma mulher que arregaça as mangas e vai à luta. Ela busca mostrar a todos que passam pela ETEC, que a educação é o melhor caminho para a realização dos seus sonhos. Assim, ela consegue inspirar os jovens a irem cada vez mais longe dando ferramentas para que elas possam ser agentes transformadores da sociedade.

Se você conhece ou é uma dessas mulheres poderosas, cheias de planos, que está fazendo acontecer em sua área de atuação, manda pra gente essa história no elatemumplano@planofeminino.com.br que sua história pode ser contada aqui!

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