A literatura é pródiga em exemplos. Aliás, diversas das obras-primas mais decantadas do mundo geralmente se engendram em torno desse “duelo” histórico entre os gêneros. Essa dicotomia, homem e mulher, encerra tantos conceitos, que serve de mote e exemplo para tudo na vida.
E, como se diz que a arte imita a vida, o duro processo de entendimento entre esses dois “personagens” é causa das maiores desilusões, desencontros, arroubos e outras tantas epopeias, que acontecem no dia a dia e acabam por ilustrar as páginas dos livros sob a pena e a ótica dos mais consagrados autores.
Fiódor Dostoievski, que retratou tão bem a alma humana em suas obras, é um dos que se volta ao entendimento da relação homem e mulher em alguns de seus mais celebrados clássicos. Em seus livros, o autor russo, como todo homem, também busca entender a natureza feminina. Apesar de um grande entendedor da cerne humana, seus personagens femininos costumam ser ainda mais obscuros que os masculinos. Seu Rodion Românovitch Raskólnikov, de ‘Crime e Castigo’, é denso, perturbado, mas ainda assim mais simples de compreender do que os personagens femininos que permeiam alguns de seus principais romances, como ‘O Idiota’ e ‘Os Irmãos Karamazov’.
Sua Nastasya Filippovna (O Idiota) e sua Agrafena Alexandrovna Svetlova (Os Irmãos Karamazov), só para citar dois exemplos, são completamente enigmáticas, em mesclas incompreensíveis de voluptuosidade e recato, moderação e exacerbação. “Contracenando” com os personagens masculinos dos romances, são mulheres como essas que revolucionam toda a obra, trazendo tons ainda mais inusitados aos enredos já complexos de Dostoievski.
Para os protagonistas homens, é impossível compreender os caprichos dessas mulheres. E mesmo quando os compreendem, eles simplesmente não conseguem lidar com eles. O resultado: o de sempre nas obras de Dostoievski, a degradação humana. Segue um trecho singular d‘Os Irmãos Karamazov’, em que uns dos irmãos – condenado à prisão depois de supostamente ter assassinado o pai por ciúmes ligados a Agrafena Svetlova – aconselha o outro sobre como agir diante de uma mulher quando for pedir perdão a ela por alguma falta:
“Deus te proteja, amável menino, de que um dia tenhas de pedir perdão à mulher amada por uma culpa tua! […] por mais culpado que sejas perante ela! Por que mulher é, meu irmão, o diabo sabe o que é […]. Mas tenta te confessar culpado perante ela, ‘a culpa é minha, perdoa, desculpa’: aí desabará uma saraivada de censuras! […] Por nada nesse mundo ela te perdoará com franqueza e simplicidade, mas te humilhará até reduzir-te a um trapo, descontará até o que não houve, levará tudo em conta, não esquecerá nada, acrescentará coisas de sua parte e só então desculpará. […] E isso ainda sendo a melhor, melhor entre elas! Raspará até a última mágoa e despejará tudo em tua cabeça. – Tal é, digo, a ferocidade que há nelas, em todas e em cada uma, nesses anjos sem os quais nos é impossível viver!”
Por não c