Aqui no Plano Feminino somos uma equipe de mulheres fortes. Todas nós temos carreiras (algumas mais de uma), filhos (algumas mais de um também), umas têm marido, outras não, mas todas hoje nos vemos como donas de nossos narizes. Somos empresárias, professoras, psicólogas, empreendedoras, publicitárias, escritoras. Mulheres que tentam inspirar outras mulheres a serem mais fortes a cada dia.

Hoje no nosso grupinho do Whatsapp estávamos com a pauta “Dia Internacional do Combate à Violência contra a Mulher” e começamos a papear sobre o assunto. E começaram a surgir histórias. Em minutos, percebemos uma verdade: muitas de nós havíamos sofrido violência física ou mental em algum momento da vida.

equipe plano

Uma contou de sua época de estudante. Ela havia acabado de ser mãe e pela primeira vez estava saindo pra uma festa com o então companheiro:

“Eu tava linda e feliz, com o corpo voltando e de roupinha nova:  uma minissaia kilt e uma blusa bege de lã peluda. Minha sogra, que era uma fofa, disse que eu parecia uma coelhinha linda. Lá pelas tantas, ele ficou bêbado e cismou que eu estava me oferecendo pra todos os caras da festa. Então me puxou pra fora do bar gritando que eu devia subir na mesa se queria dar pra todo mundo. Enquanto esperávamos o táxi, ele teve um acesso de raiva e me deu uma mordida na bochecha, que ficou roxa na hora.

Nesse ponto da história, a minha autoestima baixa poderia me levar a justificar a atitude dele como um sinal de ‘ciúme-amor-medo de me perder porque eu sou maravilhosa e tô podendo’. Mas fui o caminho todo no táxi pensando que tipo de homem eu ia entregar para o mundo se meu filho crescesse vendo cenas como aquela, porque o jeito como uma pessoa faz uma coisa é o jeito como ela faz todas as coisas e ele ia me agredir mais e mais.

Confesso que, mais pelo meu filho que por mim mesma, decidi tirar o pai dele da minha vida. Quando pedi pra ele devolver a chave da minha casa, ele a atirou contra mim e fez um cortezinho no meu rosto. Era o que eu precisava pra fazer um B.O. e garantir que ele ficasse longe. Eu não sabia, mas ele era reincidente e deve ter ficado com medo porque nunca mais me amolou.

O episódio serviu pra fortalecer a minha dignidade e a cada dia eu sentia que, mesmo tendo que trabalhar e estudar por dois, a minha decisão tinha sido a melhor. Eu entendia que a minha missão era proteger a integridade física e psicológica minha e do meu filho, e eu me orgulho de ter conseguido criar uma rapaz muito bacana,  equilibrado,  amoroso e parceiro.

Quanto a mim, nunca mais me envolvi com homens violentos. Decepção faz parte dos relacionamentos, mas quem entra na minha vida sabe que tem que me respeitar. Hoje digo que ou você tem um parceiro de verdade ou você tem um inimigo. Para merecer fazer parte da vida de uma mulher, um homem tem de empoderá-la. Isso significa gostar de ver o sucesso dela, apoiar que ela se sinta melhor e mais bonita, enfim, deixar que ela seja grande para o mundo e também pequena em seus braços.

Um homem que respeita a mulher nunca vai usar a intimidade contra ela e vai saber administrar a própria vulnerabilidade. Homem de verdade banca ter uma mulher inteira ao seu lado e isso inclui bancar coisas pequenas, como o fato de que vai ter minissaia, sim!”

A outra também sofreu na adolescência:

“Tive um namoradinho que era DJ. Eu ia às baladas com ele e todas as meninas podiam dançar, menos eu. Eu não podia andar de tal jeito, vestir de tal jeito, nada! Ele chorava e gritava e esmurrava a parede. LOUCO! Aí eu terminei com ele e ele ficava escrevendo cartas, fazendo plantão na porta do colégio, falando que me mataria. Minha familia precisou tomar a decisão de mudar de bairro, de colégio, pra só assim ele me esquecer de vez.”

Uma terceira relata violência emocional:

“O meu ex não era abusivo fisicamente, mas emocionalmente. Ele dizia que eu era bonita e 2 minutos depois falava que a fulana era linda – e a fulana sempre era uma atriz global magra e loira. Se eu falava qualquer coisa errada, ele me ridicularizava, falava que eu era burra. Ele morria de vergonha de sair comigo na rua de mão dada, de me assumir perante os amigos.

Se eu chamava muita atenção, falando alguma coisa mais séria, ou fazendo uma piada, ou sei lá o que, ele dava um jeito de me diminuir. Ele mentia muito pra mim e se eu dizia algo, ele falava que eu era louca e tava exagerando. Ele odiava quando eu saía sem ele, mas queria sair comigo sempre, sair só com os amigos dele. No fim, me apresentou pra família toda na cidade dele, no almoço de dia dos pais, só pra eu descobrir 15 dias depois que ele estava saindo com outra mulher há meses.

E mais: eu que dei um basta. Eu que escolhi me afastar dele. Por ele, a gente ia continuar junto, em paralelo, ele com as duas. Eu que me recusei e cortei totalmente da minha vida.”

 

Outra colunista conta uma história curtinha:

“Logo que entrei na faculdade, eu namorava um moço poucos anos mais velho e ele ficou ‘assustado’ porque eu estava amadurecendo e disse que terminaria comigo se eu começasse a trabalhar e se eu ganhasse mais que ele.”

Uma relata:

“Quando eu tinha 18 anos fui apaixonada por um cara que me dava apelidos tipo ‘monstrenga’, ‘somália’, ‘passa fome’, porque eu era supermagra. E ele abusava de mim psicologicamente, não queria mesmo ficar comigo, mas quando estávamos sozinhos ele me tratava bem, conversava, falava que eu era legal, e isso me enchia de esperança.

Quando estávamos na frente dos outros ele me mandava fazer favores pra ele, tipo buscar refrigerante, pegar casaco, e eu achava que tinha que fazer senão ele nunca ia gostar mesmo de mim. Aí eu ia, boba de tudo, e aí ele me ridicularizava na frente dos outros. ‘Trouxaaaaa, idiota, faz o que eu mando, parece um cachorrinho’. E ria. E falava ‘nunca vão te querer, monstrão, olha pra você, você é muito feia, olha essa cara, esse corpo, você é zoada demais.’

Eventualmente eu parei de falar com ele, mas foram muitas relações ruins porque eu pensava mesmo que era feia e ninguém ia me querer como mulher, só como amiga. Me envolvi com caras supercafa, só porque eles me desejavam, e eu pensava que aquilo era o máximo que eu teria, quem ia me desejar?

Eu tinha que ficar satisfeita com aquelas migalhas mesmo. Fui a outra, me humilhei, foi bem pesado. Aí eu pensava ‘sou feia, e além de tudo homem não gosta de mulher inteligente, não gosta de quem fala o que pensa’ As pessoas falavam isso. ‘Homem não gosta de mulher inteligente’. E eu pensava ‘nossa, eu sou feia, magricela, e sou nerd, nunca vão me querer’. E dá-lhe caras porcaria.”

O que essas histórias têm em comum?  Todas estão no passado. Todas conseguimos superar, com ajuda de amigas, de família, buscando força dentro de nós mesmas.  Hoje somos mulheres empoderadas. Aprendemos a não deixar mais que homens abusem física e emocionalmente de nós. Rompemos o círculo vicioso.  E juntas, dissemos #NuncaMais. #NuncaMais nos calaremos. #NuncaMais permitiremos que um homem abuse de nós. #NuncaMais deixaremos que amigas e familiares passem por isso. #NuncaMais mentiremos pra nós mesmas.

#NuncaMais.

Se você está lendo esse texto e se identificou com qualquer situação, peça ajuda. Não fique calada. Não tenha vergonha. A violência contra a mulher acontece em todas as classes sociais, com mulheres educadas ou não, bonitas ou não. Aqui no Plano passamos por isso e nos empoderamos e nos libertamos desse ciclo. Procure ajuda e se liberte também.

Lembre-se: você não está só. Ligue 180 de todo o Brasil para denunciar a violência.

E depois que passar, repita todo dia #NuncaMais.

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