Flavia Wenceslau
cantora e mãe de Açucena, 7 anos, Benedito, 5 anos e José, 3 anos.

Era fevereiro de 2018. A cantora Flavia Wenceslau subia ao palco como já havia feito inúmeras vezes. Em seus mais de 20 anos de carreira, no entanto, o show Minha Música Tem História era algo novo: mesclava canções e histórias de sua vida. Naquela estreia, um componente diferente trazia ainda mais brilho para a noite. Sua primeira filha, Açucena, com quase seis anos, sentada num banquinho ao lado da mãe, cantava junto com ela algumas das composições autorais.

 

Naquele momento, enquanto revisitava sua trajetória artística e pessoal, através do semblante da filha, Flavia se reconhecia na menina que também fora um dia. “Foi um momento muito bonito. Pude ver ali uma continuação da vida.”, relata Flavia, que é mãe também de mais dois meninos, Benedito e José.

 

A artista, que tem ganhado projeção nacional, começou a cantar ainda criança, levada pelo pai para participar do coral da igreja. Adolescente, montou a primeira banda com o irmão. Cantou em festas e na noite até chegar à carreira autoral. Com três discos lançados, hoje já conquistou fãs Brasil afora e tem composições gravadas por grandes nomes como Maria Bethânia, Mariene de Castro, padre Fábio de Melo, Santana o Cantador, entre outros.

 

Para Flavia, a experiência materna com cada filho trouxe um aprendizado e uma transformação profissional. Ainda que soubesse da sua vocação musical desde muito jovem, sua relação com a carreira passou por mudanças.

 

“A maternidade transformou o meu olhar para o meu trabalho”, afirma.

 

 

Paraibana radicada na Bahia, ela sempre teve a maternidade como parte do seu plano de vida e fez isso caminhar lado a lado com outros projetos pessoais. Descobriu que, mesmo tendo o desejo de ser mãe, o amor materno se constrói no dia a dia. Foi assim que, com o caminhar das descobertas da vida que se transforma com a chegada dos filhos, tornou-se uma mãe de propósito.

 

Nesta entrevista, ela conta um pouco de como foi o processo de parar e retomar o trabalho, seus aprendizados e percepções. Confira agora!

 

– Como era a Flavia profissional antes de ser mãe?

Antes eu era mais insegura. Mas o amadurecimento que os filhos trazem, naturalmente, reflete no nosso trabalho. Então, eu busquei ser mais simples, assumir mais o que eu sou, mesmo que não esteja nos parâmetros que eu quero.

– Como foi esse despertar da maternidade em você?

Eu sempre quis ter filhos, desde criança. É algo natural dentro de mim. Mas percebo que o amor materno não é algo pronto, ele nasce na convivência, no sacrifício, nas madrugadas. O amor nasce mesmo na dedicação. Minha filha está fazendo 7 anos e, outro dia, botando ela pra dormir, eu percebi o quando esse amor tem crescido junto com ela. A gente vai tirando as cascas de algumas coisas para, na essência, chegar ao amor.

– O que mudou profissionalmente após você se tornar mãe?

No primeiro ano da minha primeira filha, fiquei o ano inteiro sem fazer show, sem viajar, porque eu achava importante me situar naquele novo contexto. Então fiz essa escolha de ficar em casa o primeiro ano. Ao mesmo tempo que eu me situava, via que era importante também pra ela que eu estivesse ali de forma integral. A maternidade se tornou maior naquele momento, eu passei a sentir que filho é prioridade. Já no segundo, eu voltei pro trabalho mais rápido. Eu tinha mais segurança e podia passar essa segurança pra ele. Eu já me sentia mais preparada pra viajar, deixando ele preparado pra ficar. Com José, que é o terceiro, eu já estava situada na maternidade, situada na minha necessidade de trabalhar também. O fato de estar mais experiente me possibilitou voltar a dar atenção ao meu trabalho. Então José viajou o ano inteiro comigo, ainda bebê, enquanto os outros dois ficavam com o pai e familiares. E isso me fez bem, me trouxe harmonia. A participação de Açucena no meu show, no ano passado, me mostrou que sou capaz de ser uma boa mãe e uma boa profissional. Emocionalmente, também foi importante pra ela ter esse exemplo de que a gente dá conta, que é capaz de encontrar uma forma de não ser ausente nem na maternidade nem no trabalho.

– Quais os aprendizados que a maternidade te trouxe?

 

A maternidade me ensinou a priorizar urgências. Mas também me ensinou a não ficar só na maternidade. É um universo muito intenso, a gente precisa de outros alentos. Às vezes, pode nos angustiar a falta que faz o nosso lado profissional. Há uma necessidade em nossa natureza feminina, porque a gente pode ser mais, enquanto mulher e mãe, pode fazer mais, então há essa necessidade natural de se expandir.

 

– Como você vê essa questão tão atual do propósito de vida?

As pessoas têm falado muito em propósito porque têm se visto perdidas na vida. Muitas construíram o pilar da sua existência com coisas que não preenchem, como o consumismo, o ter em vez de ser, a posição social, e agora estamos nessa busca de propósito. Isso, pra mim, não é uma novidade, eu sempre senti que a vida tem um propósito. E sinto que ele não é algo mirabolante, que você vai descobrir aos 33 anos ou qualquer que seja a idade. Penso que temos um propósito maior enquanto ser humano de evoluir, de encontrar amor, de desenvolver a fraternidade. O mundo tem caminhado também nesse sentido. Por mais que eu ainda não esteja em um patamar artístico que eu ainda quero chegar, estou no meu propósito maior, como ser humano, mãe, dos sentimentos que eu tenho desenvolvido dentro de mim. A partir desse propósito de ser melhor, eu vou encontrando as outras soluções que eu preciso.

– Qual o principal ganho ou diferencial que a maternidade trouxe para a sua vida profissional?

O olhar se transforma, se expande, e vem com ele uma capacidade de priorizar, de se inspirar. Ao mesmo tempo em que o olhar amplia, ele vai agregando outras percepções e maneiras novas de sair da caixinha. A maternidade traz essa sensibilidade de priorizar o momento de cada coisa, mas sem anular nada. Nos dá uma percepção melhor, um sentimento de quebrar todas as barreiras que foram construídas até aqui. É todo um novo olhar pro mundo, de que tudo tem o seu lugar, a sua hora e de que a gente está sempre abrindo mão de alguma coisa.

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